sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Rui Barbosa

Parece que os senhores esperam meu silêncio
Enquanto assinam, contra a minha vontade,
Um pacto para acabar com a possibilidade,
De, no futuro, eu lembrar que houve qualidade
Na já famigerada pública educação...

Parece que os senhores esperam meu silêncio
Parece, que não me pediram a minha opinião
Sendo eu o maior beneficiário
Acho justíssimo que o sistema me faça de otário
Ao decidir nas minhas costas uma mudança
Que quer subir na contra-mão do rio
Sucateando, garimpando, desmontando a minha escola
E levando os restos mortais do meu passado
Para outra jurisdição.
(E porquê não?)

Ah, senhores! Não me pensem um tolo adiplomado!
Não fantasiem meu silêncio tão inocentemente
Ao julgarem-me um simples aculturado
Tenho a certeza de que os senhores são os culpados
Pelo que eu ser poderia e não sou,
Pois muito mais conhecimento, aliás, eu teria
Se as minhas escolas prévias os senhores
Não tivessem sucateado.


Se quiserem tolos, não venham aqui!
Se quiserem silêncio, não venham me pedir!
Se quiserem meu voto, ah, não posso escrever um palavrão?


Parece que os senhores, ou melhor, vossas excências
Lotados nos escritórios, nas jurisdições
Cheios de pompa, terno e gravata
Muito ocupados em pensar a máquina pública
(Para servir-lhes e às respectivas famílias, somente)
A tomar vinho do porto, comer à beira do canal
Com carros luxuosos e placas de fora do estado
Apartamento em Maiame (escrevo errado por não ter tido educação)
Os estandartes da democracia da urna eletrônica
Defensores ferrenhos da meritocracia
Donos de parques aquáticos, de mil cabeças de gado(ou mais)
Pessoas de posses, de cultura vasta
Estão aplicando muito bem o dinheiro público
Tirando escolas da rede municipal,
Abandonando hospitais, não contratando professores
Construindo praças e asfaltando somente
As partes turísticas da cidade
Onde não moram os pobres diabos periféricos
Que pegam o ônibus de manhã cedo
Para estudar na quase extinta escola
Que formou muitas das melhores cabeças
Que a nossa cidade teve ou tem.

Ah, me parece porra nenhuma,
Tenho certeza que ao olhar pro futuro vou
Ver a sombra estendida sob os escombros
Da educação pública municipal
Delineando o emblema da minha escola querida
Que morreu para levar a cabo as pretensões
Do sistema de embestialização dos estudantes
E idiotalização dos funcionários públicos
Para nascermos e crescermos, daqui pra frente
Sem sabermos o que é o conhecimento plena
Ou sem termos tentativas nesta direção.

Não quero, porém, pensar que me calei
Posto que aprendi muito do que sei neste lugar
A minha escola me ensinou a pensar
Que nada deve ser impossível de mudar
E que meus direitos não são negociáveis.

Colégio Municipal "Rui Barbosa"
Guarnece, guerreiro, guarnece!


Parece que à partir de hoje não vai ter educação
Mas aqui, como sempre, vai ter resistência!

Nenhum comentário:

Postar um comentário