sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Nau

Lutar é preciso
Enquanto a Nau dos inimigos se aproxima
E invade o estreito canal
De direitos que conquistamos.
Exploradores dos novos tempos
Carniceiros caçadores
De desempregados
Dos homens e mulheres sem sustento
Tornados marionetes
Do capital especulativo
Expostos às guerras e à humilhação.
Vítimas da mão madrasta -
Que nos aprisionou o corpo ontem
E, hoje, quer nos aprisionar a alma -
Somos nós os periféricos,
Os pretos, os pobres,
Os homo, as mulheres
Os trans, os famélicos...

Eu digo que a liberdade nunca existiu
Mudaram o nome do chicote e do tronco
Puseram um traje
Pós-moderno nas senzalas
Mudaram as cores
E as formas da suástica
Para caber nas engrenagens
E virar logo-tipo de cartão de crédito
Roupagem denotativa
Para enganar intelectuais
Mas não enganam
Quem não lê os livros apenas
Para saberem o quê é
Ser reprimido, pisado,
Execrado nos bairros
Nobres como ebola.
Os negros-da-casa-grande
Estão por toda parte:
Nos guetos, nos escritórios,
Nos gramados, nos telejornais,
Na política, nas universidades
Cegos para a realidade,
Perdidos, sem identidade
Querem ser brancos...
Ah! Brancos!
Dizem que desigualdade racial
Não existe no Brasil
O quê existe é desigualdade social e só.
Qual o tom da cor do lápis cor de pele?
Quantos negros tem na sua sala de aula
Na universidade pública?...
Falácias, tolices, ilusão
Dos filósofos de utopias
Que confundem especulação financeira
Com correria...
Porcos valores morais enraizados
Nas almas dos enganados
África não é um preto
Com roupas coloridas
Magro de fome com um fuzil na mão
Dançando quando tocam o tambor...
África é mãe, é berço, é ancestralidade
É cabelo crespo, é ritualidade,
É Camdomblé, Ubanda, Capoeira,
É samba, maracatu, é Jongo
É fartura, é Nilo, Etiópia, Guiné
É tudo o contrário
Do quê eles mostram na TV.
Quanto medo eles têm de dizer
Que foram eles que a saquearam
Que a dividiram,
Que exportaram seus filhos
Para serem escravizados...
Libertos são os senhores de operários
Os senhores feudais do nosso tempo
Os tementes donos das fábricas.
Libertos não precisam do Estado.
A luta continua ainda hoje
Contra a Nau do capitalismo
Que nos torna monstros disformes
Prontos para engolir seus filhos
Quando somos apenas máquinas
Lutando pacificamente
Contra o sistema operacional
Que nos controla a todos...


E se não vencermos?
Continuaremos a lutar
Pois só a luta transforma
Na pacificidade somos rebanho
Na rebeldia, somos pastores.

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